Comentários Libertários sobre a Ayahuasca e seu momento "bola da vez" da mídia - (primeira parte - revistas semanais)
Sou terapeuta há 20 anos e nos últimos três anos me envolvo numa pesquisa com o uso da ayahuasca. Nos últimos meses, três revistas de circulação semanal e nacional PUBLICARAM BESTEIRAS SOBRE A AYAHUASCA em MATÉRIA DE CAPA.
A primeira foi a ISTO É, que aproveitou a publicação do Diário Oficial sobre o uso da ayahuasca e criou uma matéria sensacionalista e cheia de erros. Recebi na Internet variados artigos criticando a matéria da revista e criei este BLOG para publicar também um texto crítico de minha autoria. Após isso, expandi esse BLOG para outras informações sobre o tema da ayahuasca e, nessa semana, juntas as revistas ÉPOCA e VEJA fazem sua função de tentar jogar merda no ventilador.
Jogar merda me refiro a jogar informações e pontos de vista mentirosos, paradoxais. E ventilador é a grande mídia, que tem o poder de lançar, sempre superficialmente (sem conteúdo, oco) e de forma bem descartável, seja nas capas das revistas que são semanais, seja até aparecer outra "bola da vez" como foco das sensações.
O poder dessa comunicação virtual, pessoal que pratico nesse BLOG, como inúmeras pessoas o fazem, não é o da grande mídia (que também está no virtual e pessoal). Mas nessa comparação é o que nos protege de sermos atingidos por essa merda no ar, pois temos outras informações, que na maior parte das vezes são o não-oficial, e outros pontos de vista sobre o assunto.
Assim, esse BLOG vai procurar fazer o caminho da objetividade–entre-parênteses, na terminologia de Humberto Maturana, mas com a prática do Anarquismo-entre-parênteses advindo das Teorias & Somaiê de Rui Takeguma, no exercício de sessões de ayahuasca que são chamadas de Pesquisas e Experiências Subjetivas Anarkia Y Ayahuasca entre Parênteses, as PES (AyA).(*)
Tenho visto e lido muito material que saiu publicado on-line na Internet sobre o assunto, inclusive linkando alguns, mas considero importante colocar meu ponto de vista. Seja porque, como o Glauco (que foi assassinado), sou "distribuidor" de ayahuasca (ele como padrinho do Santo Daime na Igreja Céu de Maria e eu como pessoa física conduzindo pesquisas e experiências numa abordagem religiosa diferente da visão convencional). Seja porque muitas pessoas que irão defender o Glauco e o Daime têm o limite da visão proibicionista/legalista. Seja porque esse incidente recente toca em outro assunto que possuo uma visão diferenciada: a questão das doenças mentais. Seja porque conduzo uma técnica terapêutica - a Somaiê - QUE NÃO USA A AYAHUASCA, mas a tenho comparado com as sessões de ayahuasca, e venho escrevendo e pesquisando o assunto. Seja porque nesses três anos e 56 sessões que conduzi, servi ayahuasca para 181 pessoas e dessas 95 nunca tinham bebido antes, e talvez algumas dessas pessoas se interessem em como observo o momento presente e essas polêmicas todas...
ÉPOCA - Na capa coloca a pergunta "O daime provocou o crime?". Eu respondo: CLARO QUE NÃO!! Esse argumento de localizar alguma coisa no criminoso pra justificar o crime é absurdo. Os que são contra a maconha podem dizer que por ele fumar maconha, cometeu o crime. Acho que pode até aparecer um vegetariano e dizer que ele cometeu o crime por ele ser carnívoro (nem sei se o é, mas brinco e exagero com o assunto pra mostrar o absurdo da premissa usada na pergunta). Se o Daime provocasse o crime, teríamos muitos mais assassinatos (nas revistas aparece que são 19 mil, mas creio que sejam pelo menos 50 mil que usam frequentemente a ayahuasca, e se formos contar quem já experimentou e repetiu poucas ou nenhuma vez, o número deve subir substancialmente). Eu com minha pesquisa já teria produzido 362 mortes, já que quem pensa que o Daime provoca o crime deve achar que produzirá crimes iguais, matando 2 pessoas. Na revista, como argumento reacionário, se coloca que a ayahuasca possui DMT "que a farmacologia policial classifica como uma droga psicoativa do tipo A - o mesmo da heroína e cocaína". Chamo de argumento reacionário pois procura levar as pessoas a associarem o DMT e ayahuasca a outras drogas pesadas, mas OMITE o fato farmacológico de que o DMT é NATURAL ao nosso organismo. Não só o homem, como todos os mamíferos, inúmeras plantas e algas possuem o DMT de uma forma endógena, isto é, que nós mesmos fabricamos. A revista VEJA também traz a informação da proibição do DMT e ainda valoriza o fato de 183 países seguirem uma lista da ONU na qual a DMT está proibida. ESSA PROIBIÇÃO É RECENTE (1970) e foi imposta de forma absurda pelos EUA. Com essa proibição a espécie humana se tornou ilegal, pois não só transportamos DMT para onde andamos, mas inclusive produzimos DMT, enfim, somos fábricas ambulantes de uma droga ilícita - o DMT. Colocando dessa forma se vê claramente como as legislações são absurdas, ultrapassando em muito a função original para que foram criadas (volto a isso mais adiante). Nessa linha nazista/fascista, daqui a pouco terá cientista dizendo pra extirparmos a glândula pineal, pois não ficaremos ilegais por produzirmos a DMT (se é que é lá que é produzida). E, pelo contrário, adotar uma linha humana, seria aceitar a natureza e DESLEGALIZAR o DMT. Isso é, não precisamos legalizar, legislar e controlar (se tem lei, tem que ter quem as regulamente e depois as vigie, e haja corrupções nesse itinerário). Tirar o DMT das leis quebraria com esse paradoxo legal não explicitado (ou seja omitido, ocultado) pelas revistas.
Não vou esmiuçar o texto das revistas (como fiz no texto anterior sobre a revista ISTO É) e termino o comentário sobre a ÉPOCA, citando como, diferente da VEJA, optaram por uma capa LEVE e BONITA: fundo branco, e uma imagem estilizada de um cipó fazendo a moldura da revista. Não sei se foi proposital (por exemplo com um responsável pela confecção da capa que é daimista), mas imagino que não, mas o resultado final fica interessante: POIS O CIPÓ (justamente a força da ayahausca) ENCOBRE O NOME DA REVISTA, MUDANDO ELE PARA: É OCA. O que se torna uma boa definição de sua matéria de capa.
VEJA - A veja consegue manter a tradição de revista mais reacionária. Classicamente sabemos que é uma revista pra se ver e não se ler, afinal o imperativo é "veja" e não "leia". Por isso a diferenças das capas, essa muito mais sensacionalista que a outra. Mas no caso da VEJA, vou pontuar mais que a matéria sensacionalista, a CARTA AO LEITOR na página 11. Pois a matéria segue a visão proibicionista em relação ao direito de escolha individual, isto é, quer reforçar a visão absurda de que devemos ter um governo (pessoas) que escolham o que cada indivíduo pode ou não usar ou se alimentar em seu viver. E, como citei antes, isso merece um tópico específico.
Na pagina 11 a VEJA mente descaradamente, usando a mesma artimanha jornalística que apontei no texto anterior (Comentários a revista ISTO É): utiliza paradoxos e quer fixar a última informação. A revista afirma: "o governo federal liberou a utilização sem regras nem limites de uma substância química alucinógena". MENTIRA ARDILOSA, pois a liberação do governo é somente uma conquista de grupos ayahuasqueiros que há várias décadas vem fazendo uso dessa substância com regras e limites. E o governo, após extensas pesquisas, verificou que a forma como os grupos utilizam a ayahuasca, é segura e responsável (o que vem sendo seguido por inúmeros países, inclusive os EUA). A própria revista, algumas linhas antes, afirma a existência de normas de uso (ainda o faz errando datas e informações), para logo adiante omitir/mentir sobre isso pra criar o sensacionalismo da frase que destaquei.
Outro paradoxo proposital da revista, na página 69, é um box chamado "Misturas Perigosas" que coloca a Maconha dentro dessa lista, inclusive com fotos da erva e dois baseados (cigarros), pra dentro do box constar: "Não há relatos de reações indesejáveis". Boa essa informação para quem não conhece as ervas, pois quem as utiliza como eu, sabe que não há problemas, mas de qualquer maneira, para os leitores que seguem o imperativo da revista (ver e não ler), esses podem achar que a maconha estaria numa lista de mistura perigosa com a ayahuasca. Mas, veja o paradoxo, eles incluem na lista para dizer que não deveria estar nessa listagem. Poderiam citar o café, chocolate, açúcar, cigarro, por exemplo...
Outro paradoxo social e político, mas que fica oculto nessas matérias superficiais, é a proibição da DMT, não só no contra-senso absurdo paranóico de se criar (EUA) ou aceitarmos (Brasil e mais 181 países) leis que tornam não só toda a humanidade ilegal, mas como inúmeros outros seres vivos. Isso no futuro será chacota para historiadores e juristas. Mas acaba criando outro paradoxo: de que não se pode pesquisar os efeitos do DMT por ela ser ilegal. Não podemos dizer se ele "faz bem" ou "faz mal" pois é proibido sua pesquisa?? Diferente de outras drogas que foram proibidas, como a cocaína, que era de uso normal há cem anos - Freud usou-a por toda a vida, inclusive receitando seu uso (parou de ministrar após um paciente morrer), e que hoje é proibida. O DMT foi proibido assim que se percebeu como era potente e se parecia, nos efeitos, com outras drogas proibidas. Mas sorte que existem os ILEGAIS responsáveis, os que foram contra os absurdos das leis, estudaram essa substância, descobriram que ela é fabricada pelo nosso próprio corpo e tem funções fundamentais ligadas ao sono, sonhos, e meditações profundas, inclusive pode ser nossa capacidade de perceber o chamado DIVINO das religiões. Acredito que pode ser um novo paradigma das ciências e religiões o estudo da DMT, mas para isso ela não pode ser proibida. E, como outros assuntos, me comprometo a voltar a esse dilema do DMT ser ilegal quando aprofundar minha visão sobre as Leis e a Ayahuasca e outras "drogas".
Como o tema é longo e meu tempo escasso, pois estou abrindo novos grupos de somaterapia em Belo Horizonte e São Paulo, além das aulas de capoeira que mantenho em São Paulo e Visconde de Mauá, e além da pesquisa com a ayahuasca, aproveito um dia de descanso em casa pra refletir sobre esse tema. Na semana que vem, continuo a reflexão indo pro lado das LEIS e das DOENÇAS MENTAIS. Adianto que sobre leis sobre drogas tenho a visão, como a do psiquiatra Thomas Szasz, de que devíamos DESLEGALIZAR as drogas. E como escrevi no meu texto deste ano, EU SOU DEUS, não existe doença mental, mas podemos talvez falar em doentes mentais...
(fim da primeira parte - revistas semanais)
Rui Takeguma, poção da Maromba em 25 de março de 2010.
site oficial - http://p.e.s.vilabol.uol.com.br
site de relacionamento - www.somaie.ning.com
blog - www.pesayahuasca.blogspot.com
OBSERVAÇÃO:
(*) as PES (AyA) são acordos consensuais entre pessoas que bebem ayahuasca sobre a COORDENAÇÃO religiosa de Rui Takeguma(**). Existe um filtro de entrada, em que conversando antes das sessões, Takeguma e sua experiência como terapeuta corporal de 20 anos percebe quem está em condições de usufruir a bebida naquele momento da sua sessão, e só oferecendo a ayahuasca a quem concorda em seguir sua coordenação na sessão, não sair do espaço da sessão até que esta se encerre, e assine um termo de responsabilidade sobre o contexto e sua participação (este quesito será adotado a partir deste momento, como recurso estratégico e melhor esclarecimento (na formalidade) dos aspectos a serem vivenciados).
As PES (AyA) não são um grupo de pessoas, não constitue também uma continuidade ou periodicidade e não possue espaço físico. Rui Takeguma é o único responsável, aluga espaços alternativos e aceita pessoas que queiram beber a ayahuasca numa pesquisa e experiência única. Há pessoas que porventura e coincidência repetem a presença nas sessões, mas isso constitue somente 1/5 dos participantes. Mais da metade dos participantes não haviam bebido ayahuasca antes dos PES (AyA). _
(**) Rui Takeguma se considera Deus e procura com sua pesquisa propor que nessa religiosidade cada um se perceba Deus de seu universo perceptivo, o que normalmente é confundido com a realidade compartilhada por todas as pessoas. Essa religiosidade vivida nos PES (AyA) se parece com o argumento científico da Somaiê (criada por Takeguma) e da Biologia do Conhecer (de Humberto Maturana), pois é a leitura estratégica dentro dos limites dos atuais paradigmas conceituais das ciências e religiões.
Ao se considerar Deus, Takeguma não busca psicoticamente se enquadrar no paradigma que a palavra Deus remete na consciência das pessoas (se bem que muitos só consigam ficar nesse nível de percepção), e sim questionar de que realidade estamos tratando, a da objetividade com ou sem parênteses. Um bom auxílio ao entendimento é a leitura do texto EU SOU DEUS.
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