Comentários sobre a matéria da revista Isto É sobre AYAHUASCA
Dia 25 de Janeiro de 2010 foi finalmente publicado no Diário Oficial da União a resolução do CONAD com uma regulamentação concluída desde
Como há 3 anos desenvolvo uma pesquisa com o uso da ayahuasca, me interessa quando o assunto assume proporções nacionais. Moro na montanha, afastado de Banca de Jornais e Revistas, mas soube da reportagem pela Internet e logo depois li matérias criticando a da revista citada (abaixo coloco o link para todas).
MORTES
Se está vivo, pode morrer...
A tentativa do Hélio Gomes/Isto é de linkar MORTES com o uso da ayahuasca é frustrada em vários níveis. No próprio texto, sem precisar recorrer a informações externas a reportagem, ao ler com cuidado vemos formas de gerar confusão. Exemplo: No trato da primeira morte relatado na revista dessa forma:
"No penúltimo final de semana, Alexandre Viana da Silva, 18 anos, morreu afogado em um lago em Ananindeua (PA), depois de tomar o chá em um culto independente. Claro que não é possível afirmar que o alucinógeno levou o rapaz, que não sabia nadar, a enfrentar uma situação de risco sem medir as consequências. Mas a hipótese não pode ser ignorada."
O jornalista afirma uma coisa - que não é possível afirmar que a morte teve a ver com a bebida. E não só afirma como enaltece com a palavra "Claro", assim não só não é possível, como começa com claro que não é possível. Para, na frase seguinte, especular na base de teorias absurdas, de que alguma bebida faria alguém fazer algo que não desejasse (teoria paranóica de "lavagem cerebral", como a mídia e os poderes usam essa hipótese pra justificar sua proibição - recomendo que se assista o documentário GRASS, mostrando como o governo americano fez campanhas desse nível pra proibir o uso da maconha). Se o jornalista experimentar por si próprio a ayahuasca (e não ficar "viajando na maionese" com informações superficiais catadas na internet), verá que ela propicia uma "viagem lúcida", e que apesar das modificações comportamentais, a consciência se mantém, e depois de passada a experiência alucinógena, mantemos a lembrança de tudo que ocorreu durante a experiência. E se nenhuma hipótese pode ser descartada, já que ele pega casos que ainda não foram resolvidos na justiça: Claro que não é possível afirmar que o jornalista afogou o rapaz para dar um falso exemplo na revista. Mas a hipótese não pode ser ignorada. Assim, esse aparente paradoxo, é usado nesse contexto, a meu ver, como uma forma estratégica do jornalista citar algo que apurou como fato (que não se pode vincular a morte com o uso da ayahuasca) mas ao gerar a confusão (numa especulação "jornalística"), fica ao leitor menos atento a última impressão escrita (que pode haver uma hipótese não ignorável de que uma morte tenha vindo do uso da ayahuasca). Por isso pode ser lido como tendencioso no sentido de criar uma falsa polêmica (NO OLHAR dos ayahuasqueiros que conhecem a bebida, veja o texto crítico de Bia Labate no site da Caros Amigos, revista rival), como pode ser lido como uma boa reportagem esclarecedora (NO OLHAR de quem nunca tomou a bebida e segue uma visão OFICIAL no viver).
Enfim, num primeiro caso o jornalista traz um exemplo de afogamento (um excesso de beber água) e quer problematizar isso com o beber ayahuasca. No segundo caso, o jornalista se dá o direito de afirmar o que a diretora do Instituto de Criminalística ainda não pode afirmar e precisa de mais tempo e pesquisa pra afirmar: que a ayahuasca se liga a morte por coração de um rapaz que já possuia a Síndrome de Marfan (uma doença que justamente poderia matá-lo do coração, independente da ayahuasca). Faz um novo paradoxo, que explicitei no primeiro exemplo.
A meu ver, a matéria nasce de um paradoxo, tentar colocar algum problema em algo que está sendo aceito, justamente por ter sido bem pesquisado. O problema é um preconceito falso, aberto somente no final, a crença de que alguma substância possa corroer nossa sociedade. Maior paradoxo é o jornalista trazer o nome de renomados políticos nacionais defendendo a publicação e especular de forma a validar fofocas escrevendo "outras vozes levantaram a hipótese", sem citar as pessoas.
Desde que a ayahuasca ficou proibida no Brasil por 6 meses em 1985 (único momento na história em que isso ocorreu), ela vem sendo pesquisada exaustivamente e muitas vezes trazida de forma sensacionalista ao grande público, inclusive com denúncias de mortes, que terminaram na justiça. Esse jornalista só trouxe 2 exemplos incompletos (pois recentes e a espera de comprovações) pra tentar criar um vínculo anunciado no subtítulo. Veja a quantidade de pessoas que usam a ayahuasca, segundo a matéria 20 mil pessoas (suponho que o REAL seja muito superior em números que o relatado na matéria e é o OFICIAL que as religiões divulgam), e somente 2 exemplos? Isso por si só, a falta de exemplos em mais de 25 anos vigiada e controlada, mostra como a ayahuasca, diferente do que os médicos psiquiatras divulgam oficialmente, não é perigosa (veja texto da Associação Brasileira de Psiquiatria no site dos PES (AyA)). Os médicos em geral vivem muito mais um ato político de defesa profissional do que uma real preocupação com a saúde das pessoas (vejam as brigas pelo Ato Médico, e sua tentativa de poder sobre as outras profissões da área).
Como ayahuasqueiro há 6 anos, e como coordenador de sessões de ayahuasca há 3 anos, posso afirmar por experiência própria que a única ligação de mortes com o uso de ayahuasca é que a ayahuasca é bebida por pessoas vivas que podem morrer, não por beberem ayahuasca, mas por estarem vivas.
Na década de 90 me tornei professor de capoeira angola, o que continuo a fazer desde então. Como exemplificado na reportagem, na OFICIALIDADE se alguém quer fazer academia de ginástica é obrigado a passar por avaliação médica. Se alguém quer fazer capoeira angola comigo "deveria" passar por avaliação médica. Essa OFICIALIDADE é o jogo das maquinações políticas, o jogo do poder dos médicos, que conseguiram esse absurdo jurídico-paternalista: não sermos donos do nosso próprio corpo. Perante a lei, deveríamos ser considerados inocentes até que se prove o contrário. Essa intenção jurídica não se processa quando pensamos nas leis que regem o nosso corpo físico: sou considerado incompetente até que se prove o contrário (pela avaliação médica). Sou considerado doente, até que um médico me diga que sou saudável.
Por exemplo, no caso das academias de ginástica, em vez de deixar que cada um avalie sua competência e quem ache necessário procure uma avaliação médica, a lei considera PERIGOSO para a MINHA saúde eu fazer ginástica e necessito de uma autorização pra EU poder gerenciar MEU corpo. Depois volto ao assunto, mas aqui o absurdo está na existência de leis paternalistas que impedem que eu use livremente meu corpo. Mas esse é o lado OFICIAL da história, ao olharmos o lado REAL, vemos que quase ninguém faz avaliação médica pela exigência da LEI, e sim por duvidar de sua competência de se avaliar e necessitar da opinião médica. Eu, por exemplo, há 15 anos sou professor de capoeira angola, e NUNCA pedi avaliação médica a nenhum aluno, e nunca tive um aluno que morreu pela capoeira. Não é a toa que vivemos num país em que mais da metade do trabalho, da produção de riqueza, se dá a nível INFORMAL. O maior motivo é essa distância entre a OFICIALIDADE e a REALIDADE.
Se essa visão paternalista de que necessitamos de avaliação médica pra decidir sobre o nosso corpo se expandir, daqui a pouco precisaremos apresentar avaliação médica pra fazer sexo, ou pra quem quiser comer hóstia nos rituais católicos. Assim, sugiro uma possibilidade contrária ao que o jornalista sugere, em vez dos ayahuasqueiros precisarmos de avaliação médica, vamos todos pensar em acabar essa obrigatoriedade médica para as coisas.
O jornalista que vincular mortes com alguma religião, em vez de olhar as que usam a ayahuasca poderia olhar para história e atualidade internacional "de crenças seculares como o catolicismo, o islamismo e o judaísmo". Mas não o faz, pois ou gosta das intenções destas ou as aceita por estarem no consenso fabricado da cultura OFICIAL muito antes das religiões ayahuasqueiras, que só agora saem da marginalidade.
DROGA ALUCINÓGENA -
No ítem anterior (mortes) procuro desmitificar o texto pelo próprio texto. Fiquei na forma e não no conteúdo, pois a Bia Labate e o Rafael Guimarães dos Santos argumentam melhor e mais detalhadamente em seus textos as incorreções da Isto É/Hélio Gomes (links para seus textos no final do meu texto).
A revista se mantém no propósito de reforçar um discurso OFICIAL de PROIBIÇÃO que está nas nossas leis, o que chamamos de proibicionismo. É um consenso fabricado pela mídia para justificar que não podemos escolher com o que vamos alimentar nosso corpo. Há cerca de um século que acontece esse movimento político de proibição do uso de certas substâncias pelo público em geral, permitindo somente o acesso a poucas pessoas. Sejam médicos, sejam cientistas, alguém tem de manipular pra decidir que é proibido os outros manipularem. Lembrando que falo do OFICIAL, pois no REAL quem possui recur$$os tem acesso a quase tudo que desejar. Afinal, quantos políticos, jornalistas, enfim, usam no REAL substâncias proibidas pelo OFICIAL??
A reportagem termina com a paranóia de que existe um "rol de substâncias que corroem nossa sociedade". A qual sociedade o jornalista se refere? Obviamente a sociedade OFICIAL. Enfim, esse assunto é extenso, e explicitamente me coloco como anti-proibicionista, consequência de não aceitar leis paternalistas, consequência de não aceitar leis absurdas, seguindo e gerando o que afirmei antes, a existência de um duplo social, o OFICIAL e o REAL. Luto como anarquista pra aproximar esses lados do meu viver, atuando no social para que ele se aproxime do meu ideal pessoal. Assim optei em viver minhas desobediências civis, e depois explicitar elas, produzindo inúmeros cúmplices nesse viver REAL e não OFICIAL.
DROGAS ALUCINÓGENAS existem infinitas. O próprio oxigênio, de acordo como utilizado, se torna uma droga alucinógena (ver a respiração holotrópica). Ingerir mais de
DROGAS se vendem em DROGARIAS, assim respondo a pergunta que o jornalista faz na própria reportagem; e como ayahuasca não se vende em farmácia (ainda), então ayahuasca não é droga. Alucinógeno é um argumento variável a cada ponto de vista, pois o que é alucinação pra alguns pode não ser para outros. Os que acreditam na fé católica, acreditam que uma pessoa morreu e 3 dias depois ressuscitou, e não se acham alucinados, chamam isso de fé. Enfim, alguns católicos podem achar (ainda mais quem conheça pela matéria) que beber ayahuasca pode levar a ter alucinação, mas o mito de Cristo não é questionado. Os católicos alucinaram tanto em seus argumentos que nem mais questionam sua alucinação. Brinco com o assunto, pois o termo alucinógeno, como comento em meu texto sobre o assunto EU SOU DEUS (link aqui: ), é de um uso político. Nessa área cada um nomeia a ayahuasca como bem atende seus interesses, prefiro assim dizer que a ayahuasca, Daime, Hoasca ou Vegetal é um SOMA-ATIVO.
Dou esses exemplos pra contextualizar os preconceitos. Cada corpo/pessoa tem o direito de viver como quiser. De beber o que quiser, de fazer o que quiser. Criamos leis pra regulamentar esse fazer e impedir que o fazer de um incomode ou se sobreponha ao fazer de outro. Nesse caso, a necessidade de organizar o social é biológica, pois fazemos nascer esse social, então podemos gerencia-lo como bem entendermos. O problema surge que nesse processo nascem gerenciamentos que ultrapassam o senso de proteção do outro, ultrapassam o direito que a lei cria de gerenciar os conflitos entre as pessoas e gera o suposto direito de que alguém saberá o que é melhor para a minha pessoa, mesmo em momentos em que não há o risco de incômodo social.
No consenso fabricado das revistas do tipo Isto É, o problema do tráfico é dos usuários e vendedores, chamados de traficantes. Aprofundando um pouquinho se percebe que o problema do tráfico é da contradição entre os 3 poderes, enfim, um problema de deputados, policiais e governantes. A publicação no Diário Oficial do uso da ayahuasca por grupos ditos religiosos é importante como alertado pelo jornalista na questão do tráfico. Pois ao legalizar o uso da ayahuasca, o governo elimina a possibilidade do tráfico, com a melhor medida e que espero que se expanda para outras situações e psico-ativos.
No subtítulo da matéria em questão, a chamada é esta: "O governo legaliza o uso religioso do chá alucinógeno, mas peca ao deixar que mortes ocorram e ao abrir uma brecha jurídica que pode estimular o tráfico." A superficialidade do conhecimento e pesquisa do jornalista se mostra fraca desde este início. Numa frase usa um dado específico - a oficialização do uso da ayahuasca, com uma abstração paranóica-sensacionalista - de que o governo PECA ao deixar ocorrer o inevitável (mortes naturais), pra concluir de uma forma reacionária e proibicionista - que se abre uma brecha jurídica que pode estimular o tráfico. Como disse, ao oficializar some o comércio ilegal, chamado de tráfico, e aparece o comércio legal. Ou, de outra forma, o OFICIAL e o REAL podem coincidir.
Assim, o governo propicia uma validação do direito das pessoas de regularem suas vidas, permitindo que elas façam uso do que lhe é de direito biológico e terreno, de usarmos e nos alimentarmos do que desejarmos. No caso, o uso de duas plantas que geram um chá natural, isso pode ser usado e aceito como qualquer outra mercadoria de nosso sistema de trocas/vendas/compras.
Se aplicássemos isso a outras substâncias, acabaria o NARCOtráfico. Possibilitando que os produtores, vendedores e consumidores de substâncias psico-ativas como maconha, cocaína, heroína, ácido lisérgico, etc, possam ser tratados como os produtores, vendedores e consumidores de substâncias psico-ativas como cigarros, charutos, cachimbos de quaisquer fumos, qualquer bebida alcoólica, drogas e outros fármacos encontrados em drogarias, café, açúcar e temperos, bem como ervas
No caso do tráfico, ele pode ser estimulado a medida que se proíba o uso da ayahuasca, ou que se use o argumento religioso como forma de exercício de poder e preconceitos. Por exemplo, ao se aceitar os argumentos de alguma religião nos moldes que geraram a regulamentação, meu trabalho não-religioso pode ser encarado como um processo também religioso, pois também temos argumentos em relação ao viver e como e para que o uso da ayahuasca, e principalmente um ritual de controle do uso.
A meu ver, minha pesquisa se dá num âmbito de estudar os efeitos sensoriais subjetivos e como isso se modifica com a musicalidade, e conversar, além dos contextos outros do social e espaço físico da sessão. Comparo as sessões de
RELIGIÃO
Vou em breve fazer um texto em que ampliarei essa questão. Em 2008 me coloquei como ALEGAL, para não dizer ILEGAL. Na virada do ano de 2009 pra 2010, publiquei EU SOU DEUS, explicando como respeito as religiões e seu uso da ayahuasca, mas prefiro, ao invés de chamar de ritual religioso, outras nomeações para meu ritual.
Por ora, manifesto minha solidariedade aos índios tradicionais que usam a ayahuasca de uma forma mais ampla que a religiosa, pois estes também se tornam marginais junto comigo. Ou seja, escrevo sobre uma bebida MILENAR, que possui citação em relatos arqueológicos variados que indicam ser a ayahuasca, bem como relatos de mais de 200 anos e com a certeza de ser a ayahuasca. Uma bebida que, além de natural e de estar tendo um crescimento de participantes e expansão geográfica internacional com as Religiões Ayahuasqueiras, possui a característica de manter inúmeros grupos indígenas que usavam essa bebida ancestralmente (inclusive há os grupos que incorporaram à sua tradição, pela influência das Religiões Ayahuasqueiras) e grupos alternativos outros - como a pesquisa que desenvolvo - que não seguem uma doutrina religiosa para nortear o uso da ayahuasca.
Assim, apesar da conquista política no universo das drogas proibidas, em que a aceitação/legalização de uma bebida que muda as percepções pode ser um passo em direção a leis anti-proibicionistas, e por consequência do fim do narcotráfico, o limite dessa atual legislação está
Como me preocupo mais com o REAL que com o OFICIAL, entro no meu terceiro ano de pesquisa de uso da ayahausca. Sempre assumi meu viés NÃO-RELIGIOSO, explicando através do site na Internet, através de conversas anteriores a sessão, e muitas vezes na sessão os meus argumentos e a visão de mundo do Anarquismo Entre Parênteses, que desenvolvo a partir da minha experiência como terapeuta corporal da somaterapia/somaiê. Assim, deixo para cada participante do PES (AyA) a decisão de aceitar a minha coordenação em consenso ao que proponho, e não descarto utilizar a nomeação religiosa para, estrategicamente, manter sem problemas a minha forma de produção. Venho fazendo essa comparação com os participantes deste ano (em 2008, 86 pessoas beberam ayahausca comigo; em 2009 foram mais 66 pessoas novas, e já em 2010, em menos de 2 meses, 24 pessoas NOVAS beberam ayahuasca no PES (AyA)).
Quem, como eu, não aceita esse limite (o religioso) para o uso da ayahauasca, tem a possibilidade de arriscar comigo e com inúmeros outros grupos que possuem uma competência no trato de uso da bebida, mas que não se limitam ao OFICIAL, e vivem um REAL uso da ayahuasca sem ritual religioso. Mas não contem isso para o jornalista da Isto É, pois ele se limita a pesquisar no Google. Ele confunde na matéria o fato de alguém comprar ayahuasca conseguindo um contato por site de busca na Internet com o fato de alguém pesquisar na Internet a possibilidade de comprar ayahuasca. Ele somente pesquisou na net e reproduz a imagem na revista, não efetuou a compra na prática (também por aí se vê a profundidade da matéria, qualquer jornalismo de qualidade falaria de fatos e não de virtualidades). Falo isso pois há uma confusão nesse consenso fabricado do "perigo das drogas", com o real interesse das pessoas pelas ditas drogas. E esse interesse fazem as pessoas comprarem ou chegarem ao que querem, independente do OFICIAL proibir ou não.
Quem quiser experimentar e depois usar recorrentemente qualquer substância tem o direito biológico de fazê-lo. O limite da biologia é a morte, o fim da autopoiese, o fim da auto-produção-de-mim-mesmo. Um veneno, se usado com competência, produz a morte e não pode ser usado mais de uma vez. Mas se estamos vivos e somos donos do nosso corpo, podemos e vamos alimentá-lo como quisermos. Seja para sua manutenção básica, seja para sua experimentação e possibilidade de crescimento (uma forte corrente evolucionista explica o "elo perdido" da evolução humana pelo uso de cogumelos alucinógenos), o uso de substâncias variadas é de direito de cada ser. As leis que nasceram pra que cada indivíduo tenha sua liberdade de ser, sem ser tolhido nessa liberdade pelo ser livre de outros indivíduos se invertem na legislação proibicionista, em que a própria lei começa a servir para tolher as liberdades. E veja, não liberdades que estão incomodando outros indivíduos, simplesmente liberdades de experimentar e vivenciar as possibilidades de seu próprio corpo, no caso, com o uso de um alucinógeno natural.
Assim, voltando ao ponto, o real interesse das pessoas pelas ditas drogas não é afetado pela lei e pela publicação no Diário Oficial, quem se interessa e toma ayahausca continuará a tomar, quem não, também não. Revistas como Isto É e Caros Amigos pegaram e continuarão a pegar esse gancho do momento enquanto isso vender revista, dar polêmica, trazer pontos de vistas diferentes, como faço aqui também. A publicação traz pouco de novo, a não ser facilitar que o assunto se torne gancho de momento da publicidade, digo, do jornalismo desse tipo de revista, que tem seu lado positivo ao divulgar o uso da ayahausca. E que isso potencialize a aprovação dela enquanto Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira (como os Peruanos já fizeram) e diminua o preconceito em geral de substâncias marginalizadas por políticas econômicas e de interesses escusos.
LEGISLAÇÃO
Assim como o viver cotidiano se dá nesse equilibrar o OFICIAL com o REAL, considero positivo quando acontecem iniciativas anti-proibicionistas como essa, mesmo que exclusivas ao argumento da religiosidade. Com o fato de ser finalmente publicado no Diário Oficial, o uso da ayahausca assume um caráter inédito na legislação nacional e pode influenciar outras legislações com esse avanço parcial. Mas considero mais importante no nível REAL que se processará uma melhor aceitação da ayahuasca no cotidiano das pessoas, e isso poderá aumentar ainda mais seu uso. E quem bebe ayahuasca sabe que seus benefícios, além de pessoais, físicos e internos, se ampliam pro social, com mais afetividade, solidariedade e amor, com menos rancor e mágoas.
Enfim, em 2010 os bebedores de ayahuasca vinculados as Religiões Ayahuasqueiras poderão se sentir mais protegidos legalmente e socialmente em seus usos e costumes, legitimaram seu REAL no OFICIAL.
Mas anarquistas como eu, mesmo percebendo essa evolução na legislação não se preocupam muito com o OFICIAL (somente quando esse pode atrapalhar nosso REAL), e continuaremos nesse caso da ayahuasca, a beber de forma escondida ou a ter de fingir ser religioso, mas manteremos nosso OFICIAL diferente do REAL, pois acreditamos que quem se limita ao OFICIAL perde a distinção e consciência do que é seu REAL. E nas sociedades em que o padrão paternalista se extende a legislação, temos de aumentar nosso jogo-de-cintura de desobediência civil com muita consciência, pois, ao se acostumar com o consenso fabricado, pode-se chegar a um grave caso de normopatia, em confundir o seu REAL com o OFICIAL para todos.
Além da minha esperança de que agora mais pessoas aceitem a ayahuasca como um uso social brasileiro, como um chopp na praia, ou a cerveja depois do serviço, também tenho a esperança dos ayahuasqueiros religiosos perderem seu medo dos que não são religiosos e apóiem nosso uso dessa bebida mágica. E se lembrem que muito antes de suas religiões se tornarem tradicionais, muito antes de Mestre Irineu e Mestre Gabriel, e de Mestre Daniel e Padrinho Sebastião, outros seres humanos bebiam de outras formas a ayahuasca, inclusive possibilitando surgirem seus mestres e ritos.
PES (AyA)
Aproveito esse texto e momento para criar um BLOG dos PES (AyA). Alguns já publicaram comentários sobre sua experiência nos PES (AyA) dentro do NING (somaie.ning.com), mas como lá depende de um cadastramento prévio para postar comentários e acessar, pretendo facilitar as trocas virtuais com um BLOG próprio.
Blog http://pesayahuasca.blogspot.com uma voz dos PES. Vamos blogar...
Rui Takeguma, 18 fevereiro de 2009
53 sessões em 26 meses. 340 doses servidas para 177 pessoas, 94 eram virgens em ayahuasca.
Suas exposições encontram-se com meus pensamentos sobre a relação entre alucinógenos e corpo! Porém, minha preocupação está com a intransigência do "oficial" com o uso da ayahuasca "alegal" (utilizando sua criação e conceitualização). Sua pesquisa para a Somaiê está bem original e corajosa!
ResponderExcluirTambém me preocupo com essa questão...
ResponderExcluirMas prefiro ir (por enquanto) por esse caminho e explicitar meu pensar, que ficar hipócrita e falsear um falso rito religioso pra estar "legal". Me entende?? mas não descarto essa hipótese... rs
abraço, valeu o comentário