Comentários Libertários sobre a Ayahuasca e seu momento "bola da vez" da mídia - (terceira e última parte - doenças mentais ou doentes mentais)
Vou procurar finalizar essa sequência de textos, sob o mesmo título, mas dividido em 3 partes. Comecei a escrever no contexto de revistas semanais falando absurdos que envolvem o ambiente ayahuasqueiro e que me afetam pessoal e profissionalmente. Este ano vou completar 20 anos que atuo no ambiente da Somaterapia, no meu viés chamada de SOMAIÊ, que utiliza do legado de médicos-psiquiatras criadores da Antipsiquiatria na década de 60. Esse viés alternativo da psiquiatria gerou, pela primeira vez na história, reversão de casos de esquizofrenia através de mudanças paradigmáticas na abordagem das chamadas "doenças mentais". Modificou inclusive a forma clássica de internamentos psiquiátricos, acabando com as prisões-chiqueiros que eram os locais destinados a "tratar" (leia-se isolar da sociedade e família) os "doentes mentais". O Pinel, no Rio de Janeiro, de nome de uma instituição virou sinônimo de loucura. Curioso como Philippe Pinel foi considerado um grande inovador da Psiquiatria por se opor a se acorrentar os "doentes mentais". (*1)
A antipsiquiatria mostrou que esta "doença" é uma resposta sensível a um condicionamento social e cultural de uma sociedade, esta sim podendo ser considerada doente. O poder político reacionário (direita e esquerda brigando por poder lá de cima, em vez de gerarem um poder que venha de baixo, do indivíduo pro social) somado ao poder econômico da indústria farmacêutica (que produz medicamentos que amenizam os efeitos dos inúmeros níveis de "doença mental"), foram fortes influências para que a força da antipsiquiatria fosse desviada de seus conceitos originais (questionar a doença e sociedade), e absorvida (muitas vezes equivocadamente, indo pro extremo oposto de tirar o apoio social para as famílias que precisam de um atendimento psiquiátrico paternalista) de forma superficial, que é a proposta antimanicomanial e outras mudanças no tratamento psiquiátrico.
O momento presente é sempre palco de evoluções e transformações tecnológicas mais avançadas que o passado. Porém, cada vez mais em menos décadas há mudanças mais radicais, assim, uma pessoa quanto mais velha, mais viu o nascimento de tecnologias novas e revolucionárias. No meu caso, meu pai viu o nascimento da televisão e seu poder de informação, eu vi o nascimento da Internet e sua rede mundial de trocas de informação e minha filha já nasceu nesse ambiente em que televisão e Internet já são seu passado. Três gerações que convivem e tiveram influências radicais em inúmeras áreas, seja no ver um homem andar pela Lua ou ver um robô sambar em Marte, mas que no quesito de ENTENDER O HUMANO, seu comportamento ou psiquê, ainda estamos numa sociedade que segue a oficialidade de conceitos criados há mais de 100 anos e que possuem inúmeros outros caminhos e abordagens que não são adotadas oficialmente. Acho compreensível, por exemplo, que pessoas e cultos considerem a televisão uma besta, coisa do diabo e argumentos por aí; isso é uma opção e direito individual, mas seria incabível um Estado considerar isso e criar leis impedindo a existência de conglomerados usando essa tecnologia (como essa idéia é tão obtusa, os Estados autoritários procuram censurar e controlar esses meios de circulação de informação, como a censura da TV na Venezuela e a censura da Internet na China). Mas, ao adotar uma visão oficial-legal sobre o homem e suas mazelas de comportamento delegando à PSIQUIATRIA o definir formas e abordagens oficiais é, como nessa comparação exagerada, perceber como se estivéssemos vivendo numa sociedade na qual a TV e a Internet fossem proibidas. (*2) Isso é a Psiquiatria atual: um equívoco do passado, que ainda é aceito. (*3)
Recomendo a todos que assistam o documentário The Corporation, dirigido por Mark Achbar, Jennifer Abbott e Joel Bakan. Este documentário descreve, com uma boa crítica e bastante detalhes, a história da corporação e vai mostrando seus mecanismos de atuação, do ponto de vista político. Como sou crítico a Psiquiatria tradicional, não gosto da opção do roteiro de comparar as corporações a pessoas, para daí fazer uma avaliação psiquiátrica. Mas aqui se torna um bom exemplo, pois o filme explicita, e em detalhes, como as corporações (não todas, mas a maioria absoluta) poderiam ser enquadradas como DOENTES MENTAIS, esquizofrênicas. Isto é, vivemos numa sociedade dividida, fruto de uma cultura dividida, por consequência de no processo da educação dividirmos nossos filhos, que mantêm e perpetuam esse mecanismo de divisão, de esquizofrenização. (*4)
Gosto do exemplo histórico de sobrevivência de Galileu Galilei frente ao poder de sua época, diferente do que aconteceu com Giordano Bruno. Em 17 de fevereiro de 1600, G. Bruno é queimado vivo pela Inquisição (leia-se religião católica) por sua trajetória herética e libertária, e por defender a visão de Copérnico (de que é a Terra que gira em torno do Sol, ao contrário do que a Igreja defendia). Quando em 1632 G. Galilei publica Um Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo, novamente defendendo a tese de Copérnico, é processado pela Inquisição e seu livro ficou no Index Librorum Proibitorum por mais de 200 anos.
Para fugir da morte, Galileu assina um documento no qual diz aceitar a tese de Ptolomeu, de que é o Sol que gira em torno da Terra. Mas o que me interessa desse processo, é que ficou na história o fato de depois de ter assinado, e na frente da Inquisição, ter dito que ele pode ter assinado, mas é a Terra que gira... Isto é, a Inquisição não queria a mudança de opinião pessoal, e sim a assinatura oficial de que ele mudou de opinião, mesmo que explicitamente não o tenha mudado. Essa divisão hipócrita que a Igreja aceitou é o que continua a se processar na modernidade. Culturalmente a sociedade aprendeu com esse exemplo que uma coisa é a crença e o viver individual, e outra é a sinceridade (ou falta de) do viver social/político.
Recentemente um senador americano saiu do armário, assumindo sua homossexualidade (não por desejo, mas foi flagrado saindo de uma boate gay com um jovem rapaz). O interessante é que em todas as votações ele se colocava contra a homossexualidade. ENFIM, relatar hipocrisias e falsidades, tanto históricas como recentes, seria INFINDÁVEL, pois vivemos numa sociedade hipócrita, que precisa de hipocrisia pra manter sua estrutura de desigualdade e injustiças. A questão é como criar contra estratégias no viver, o que venho fazendo e propondo há 20 anos dentro da Somaterapia/Somaiê, e agora (3 anos) também no ambiente ayahuasqueiro.
A atual Lei 11.343/06, que entrou em vigor no Brasil em outubro de 2006, é um exemplo jurídico dessa hipocrisia social. Juridicamente é uma lei ilegal, isso é, pra atender interesses secretos viola os princípios da lesividade (ou ofensividade), da proporcionalidade (ou razoabilidade), da isonomia, da culpabilidade pelo ato realizado, da legalidade, e viola a garantia do estado de inocência (ou presunção da inocência). Enfim, uma lei que repete violações a princípios e normas consagradas nas declarações universais de Direito e nas Constituições democráticas, como a Constituição Federal Brasileira, sendo afastadas a universalidade, a superioridade e a efetividade dos direitos fundamentais e de suas garantias. (*5) Mas, independente de conhecimento jurídico (que não possuo), vejam a situação:
- o Estado considera que quem esteja usando DROGAS, seja considerado DOENTE e DEPENDENTE. Se alguém é pego fumando maconha pela polícia, esta avalia a quantidade que se está portando. Se tem pouco, para consumo próprio, é liberado sem problemas (atualmente). Se tem muito, é traficante e vai preso. Mas porque ir preso por transportar ou vender algo a alguém doente?? Ou porque o Estado não faz esse papel (no próprio EUA que gerou essa política internacional proibicionista, isso acontece, a possibilidade da maconha para doentes - e maconha de melhor qualidade que a nossa)?? Isso é, não se pode plantar maconha (senão vai preso e se perde a propriedade do terreno e/ou casa em que se plantava), nem se vender, mas fumar pode?? De onde aparece a maconha que está em pouca quantidade?? De um ato mágico, ou de uma hipocrisia jurídica de que se pode usar algo que não se pode comercializar ou plantar... Isso é, voltando ao que comento na observação *4, estamos acostumados a ver as situações e não refletir/pensar sobre elas... (*6)
Gosto de citar a maconha, pois além de a usar por mais de 20 anos, sei que o maior problema que ela me deu foi a quantidade de vezes que subornei policiais por ser pego fumando. Sei que ela é a grande hipocrisia da vertente do Santo Daime que a aceitam, inclusive de forma sagrada, mas que oficialmente são obrigados a negar. Sei que ela é o grande bode expiatório das famílias brasileiras, mas devido a hipocrisia legal nem se pode ter estatísticas sérias de quantos a usam. Na reportagem da revista Veja, o avô do assassino do cartunista e Padrinho do Daime Glauco Vilas Boas cita que 90% dos jovens usa maconha. Mesmo que seja somente uma opinião pessoal, mesmo que pra tentar atenuar a sua hipocrisia de aceitar a idéia de que 90% sejam ilegais pra justificar a ilegalidade (de usar maconha) de seu neto, acho que no mínimo 50% usa ou experimentou e não vê problemas em seu uso (por conviver com usuários). Os reais responsáveis pelo tráfico de entorpecentes são os SENADORES e DEPUTADOS, pois poderiam mudar uma lei e DESLEGALIZAR as drogas, isto é, retirar das leis essa questão de uso e opções individuais de alimentação. Mas, começando pelas alianças políticas e subornos pessoais, tanto essa Lei quanto o nosso viver delegado a representantes são aspectos desse viver hipócrita que aqui denuncio. E a aceitação coletiva de leis hipócritas é que de uma certa maneira incentiva a esses políticos a manterem seus discursos e ações. A indústria do cigarro/tabaco não quer concorrência com a maconha, que faz muito menos mal a saúde, porém ainda se encontra, em nosso país, na categoria crime. Imagine a força econômica de subornos e apoios políticos. Se a maconha se liga ao restante da criminalidade é somente ao fato de serem os mesmos vendedores. Não uso e nem gosto da cocaína (e se não gosto é que já experimentei para dizer), porém considero ela na mesma situação de marginalidade. Imagino quanto desses jornalistas que estão criticando a ayahuasca na imprensa não fazem uso de drogas ilícitas, mas como o político americano que citei acima, não saem do armário (das drogas) por hipocrisia social. Temos de ver tantas mentiras vindo pela mídia o tempo todo, se um filho de um político famoso morre por excesso de uso de cocaína, como foi com o filho do Toninho Malvadeza (ACM), se compactua socialmente e midiaticamente e se publica que morreu do coração. Se uma pessoa não famosa, que morreria do coração por problemas de nascença, morre do coração, vão tentar culpabilizar uma bebida e ritual religioso que ele frequentava...
Retornei ao tema DROGAS ilícitas, pois, apesar de a Ayahuasca estar legalizada (e sempre procuro lembrar: ayahuasca pode e maconha não, isso é uma contradição legal e hipócrita), ela está sendo alvo de críticas que no fundo tendem a manter uma VERDADE LEGAL HIPÓCRITA e sem bases científicas. Como citei na primeira parte, o DMT (dimetiltriptamina) é considerado uma droga ilegal e proibida em inúmeros países. Mas é fabricada por nosso corpo. A maconha foi condenada por problemas de repressão à comunidade espanhola nos EUA e por questões econômicas com a Dupont, fábrica de tecidos sintéticos que queria tirar o uso do canhâmo da indústria têxtil. Nesse jogo político se constroem argumentos falsos para credibilizar essas falcatruas das Corporações e seus políticos comprados. (*7) Mas trago essas informações para trazer a TESE da SOMAIÊ, de que o problema das drogas não são elas e sim seus usuários. Como se usa e para que se usa.
A mídia gosta de sensacionalismo e em vez de somaativo, ou psicoativo, usa o termo alucinógeno pra nomear a ayahuasca. Mas o OXIGÊNIO também é alucinógeno, se usarmos essa mentalidade estreita da oficialidade que retrata uma visão mecanicista e reducionista da realidade e viver. Talvez alguns digam: - Mas como? Esse cara enlouqueceu, de onde tirou isso, nunca ouvi falar, qual revista ou canal de televisão mostrou isso?? Como as revistas e televisões trabalham com o que os anarquistas chamam de consenso fabricado, só se divulga o que interessa à manutenção dos sistemas hipócritas. Desde o estudo de Wilhelm Reich, que gerou a bioenergética e seus exercícios respiratórios (depois muito difundido por discípulos do OSHO - que bebeu da fonte em W. Reich), ou especificamente o psiquiatra Stanislav Grof que usou o LSD (ácido lisérgico, "alucinógeno" muito usado a partir da década de 60, conhecido pela juventude como Doce - apesar de hoje em dia os Doces possuirem muito mais anfetaminas que LSD) como tratamento terapêutico e pesquisa de expansão da consciência e depois substituiu a droga por uma forma de respiração, que denominou holotrópica.
Mas não precisa referências teóricas ou confiar nessas fontes, quem queira pode experimentar por si mesmo. Não recomendo a qualquer um fazer isso sozinho, mas de qualquer maneira a receita é muito simples: aumente muito a sua respiração, forçando a entrada de oxigênio a mais na corrente sanguínea que o necessário. Quando fazemos alguma atividade física forte nossa respiração se adequa e busca naturalmente essa respiração mais forte. Mas se, sem precisar, estando por exemplo sentado ou deitado sem esforço físico, começarmos a fazer esse tipo de respiração, EM POUCOS MINUTOS, atinge-se um estado que pode ser chamado de alucinógeno, com inúmeras respostas corporais e mentais, pois a hiper-ventilação pulmonar eleva o nível de oxigenação cerebral, daí seus efeitos. Muitas atividades físicas produzem "baratos" parecidos, seja danças, ou técnicas terapêuticas, inclusive a capoeira, sempre dependendo DA FORMA E CONTEXTO que é feita essa respiração. Será que divulgando isso, algum reacionário irá propor um controle sobre a respiração?? Ou a proibição do oxigênio?? Parece absurdo, mas vejam o que fizeram com a masturbação ou onanismo (*8), na história das ciências, no Adendum que acrescento no final.
Existem outras ervas naturais muito mais poderosas que a maconha, como a Sálvia divinorum, que, por estar fora da lei (como proponho para as drogas em geral), não é de uso ilegal, inclusive é possível comprar através da Internet. Ou o Kambô (ou kampô), conhecido veneno de sapo e usado por indígenas, também de uma psicodelia tremenda, porém alegal, ou deslegal, enfim, fora da lei. Ambas, e várias outras, tem tido um crescimento de seu uso em ambientes urbanos. A própria água (H2O), fonte de vida e fundamental para o nosso viver, se usada incorretamente pode matar: se forçar alguém a beber 7 litros de água no mesmo dia, é morte certa. Assim, como dois quilos de açúcar no mesmo dia (para uma pessoa de uns 80 kg) é mortal.
Assim, afirmo, a questão não está nas COISAS EM SI, como ayahuasca, maconha, oxigênio ou água. Mas como ME RELACIONO COM AS COISAS. Lembro da genial frase de Yoko Ono: "Droga pra mim, é o segundo copo de água, depois que o primeiro matou a sede". Essa é a chamada visão funcionalista (terminologia de Wilhelm Reich), ou visão sistêmica (terminologia de Humberto Maturana), ou ainda visão complexa (terminologia de Edgar Morin) e que coincide com os estudos da física quântica e suas conclusões de perceber a importância do OBSERVADOR no processo da observação.
Finalmente posso chegar no tema da antipsiquiatria somática em relação a doença mental. Não existe doença mental, pois a coisa em si não existe. Os nomes e terminologias psiquiátricas pra tentar definir e categorizar os comportamentos não passam disso: nomes e terminologias. Talvez no futuro as ciências cheguem a mesma conclusão na área da doença mental que hoje temos com a masturbação. Logo volto ao assunto.
Em 1967, um renomado psiquiatra, David Cooper, assume uma revolução na Psiquiatria com o livro Psiquiatria e Antipsiquiatria: "Não obstante, ainda é quase revolucionário sugerir que o problema não reside na chamada "pessoa doente", porém na rede de interações de pessoas, particularmente sua família, da qual o paciente admitido, por um truque de prestidigitação conceitual, já foi abstraído. Dito em outras palavras, a loucura não se encontra "numa" pessoa, porém num sistema de relacionamento em que o "paciente" rotulado participa: a esquizofrenia, se é que significa alguma coisa, constitui um modo mais ou menos característico de comportamento pessoal perturbado. Não existem esquizofrênicos. A abstração usual de uma "pessoa doente" do sistema de relacionamento em que se acha imediatamente presa deforma o problema e abre caminho à invenção de pseudoproblemas, classificados e analisados causalmente com absoluta seriedade, quando todos os problemas genuínos se esvaíram despercebidos, através dos portões do hospital (juntamente com os parentes que se foram)." A partir dessa linha se desenvolveu uma nova ciência que foi esquecida, tanto pela morte prematura de alguns antipsiquiatras, como pelo poder dos sistemas econômicos: se não existe a doença, que fazer com a indústria farmacêutica e seu poder nos Congressos e nas escolas de Medicina? Mais de 50% dos médicos de hoje são simples representantes indiretos dessa indústria poderosa, que inclusive MAIS GERA DOENÇAS, QUE AS CURA. Vejam a iatrogênese, isto é, as doenças causadas pela medicina.
É importante lembrar que afirmar que as doenças mentais e os pacientes insanos não existem não significa que não haja a conduta pessoal apresentada pelas pessoas classificadas como mentalmente doentes, ou algum tipo de perturbações sociais a eles atribuídos. Inclusive alguns casos de acertos entre medicações psiquiátricas e mudanças de comportamento são utilizadas a confirmar esse estigma da existência da doença mental. E a grande maioria se ilude com isso, passando por cima de ver com seus olhos os malefícios maiores produzidos por essa imensa "indústria da doença mental". Quem estuda a antipsiquiatria percebe facilmente esses mecanismos, mas como essa abordagem está afastada do consenso fabricado a se divulgar, as pessoas só conhecem as teses tradicionais da psiquiatria e medicina.
O exemplo de Galileu se torna importante pois vivemos num círculo vicioso: aprendemos para sobreviver a não confiar em nossa percepção e sentir, e acabamos delegando a profissionais que (muitas vezes ingenuamente) acreditam nessas formas autoritárias de controle e tratamento, que chamamos em geral de VIVER. Assim, na adequação social, aprende-se a HIPOCRISIA como a principal ferramenta de sobrevivência no social. Hoje em dia a ciência médica aceita com bons olhos a masturbação, inclusive incentivando a sua prática. Não só como forma de conhecimento de seu próprio corpo, mas que isso intensifica e melhora a produção hormonal. Mas, por mais de 200 anos foi considerada um MAL pela Psiquiatria e ciências oficiais. E por mais que a medicina tenha mudado de opinião, provando o contrário que acreditava, isso ainda não chegou totalmente ao senso comum, principalmente pela força reacionária das religiões no âmbito da sexualidade. Enfim, em pleno século XXI, vejo jovens que procuram a Somaiê e tem medos e preconceitos quanto a masturbação e sexo. Alguns ainda sentem peso da culpa, ou por se deixarem se iludir de que a masturbação tem de acabar quando se inicia a vida sexual adulta, e ocasionalmente alguns que não praticam sem perceber as forças pedagógicas que influíram nessa aberração: não aceitar, tocar e sentir prazer de seu próprio corpo.
Ano passado debati virtualmente (http://somaie.wordpress.com) com um ex-somaterapeuta que após formado resolveu mudar política e cientificamente, enfim, optou pela psicologia tradicional. Numa tentativa de argumentar suas ações, produziu um tratado de mentiras e absurdos (http://somaterapia0.wordpress.com). Acusa a SOMA de Roberto Freire de besteiras bem superficiais, e chega ao cúmulo de acusar a técnica de produzir surtos psicóticos. Sem falar que em seu texto reacionário defende inclusive o direito a virgindade, indo na contramão da revolução sexual. Pessoas como esse Fábio Veronesi são a oficialidade do reacionarismo hipócrita do sistema que aqui critico. São as pessoas que se consideram competentes pra lidar com a "doença mental". No meu ver, são esses profissionais que criam a "doença mental", para se manter profissionalmente a custa dela...
Falei da Masturbação, que é um exemplo da ditadura da MENTE racional versus o corpo sensorial (este quer prazer e aquela justifica motivos para não atender essas necessidades), mas é somente um exemplo a mais da clássica luta entre os poderes. O quanto o homem negro foi e ainda é inferiorizado pelo homem branco. O quanto o judeu foi execrado na história da humanidade e agora é o Estado de Israel que o faz em relação a Palestina. O quanto o homossexual foi condenado e agora, em alguns países, consegue direitos como os do heterossexual. Aproveito alguns dados históricos com esses temas ligados a DOENÇA MENTAL para que cada um possa ter mais informações sobre como a história da Psiquiatria se baseia em erros e equívocos, por isso acrescento um ADENDUM retirado de partes do livro A Fabricação da Loucura - um estudo comparativo entre a Inquisição e o movimento de Saúde Mental, do psiquiatra Thomas S. Szasz e que pontua alguns exemplos de Anti-semitismo sistemático na Espanha e na Alemanha, nas caças às bruxas na Europa, na escravidão negra e na perseguição moderna do mentalmente doente. Aqui um trecho do livro: "Existe uma semelhança fundamental entre a perseguição de indivíduos que praticam atividade homossexual consentida, e em particular, e as que ingerem, injetam ou fumam várias substâncias que influem em seus sentimentos e pensamentos - e a perseguição tradicional de homens por sua religião, como os judeus, ou por sua cor de pele, como os negros. O que todas essas perseguições têm em comum é que as vítimas são perseguidas pela maioria, não porque participem de atos manifestadamente agressivos ou destrutivos, como roubo ou assassinato, mas porque sua conduta ou aparência ofende um grupo intolerante com relação as diferenças humanas e é por estas ameaçado." Quem deseje mais informações, sugiro do mesmo autor O Mito da Doença Mental, em que procura mostrar como o conceito de doença mental é errado e enganador. Esse meu texto são somente comentários indignados de um ayahuasqueiro, maconheiro e punheteiro, que atua como somaterapeuta há muitos anos, mostrando em seu viver e para seus terapeutizados que um dos caminhos da saudabilidade é enfrentar as hipocrisias sociais e ter energia e estratégia para isso. Sou também professor de capoeira e acompanho as dificuldades do povo negro, bem como sou um heterossexual que aceita e defende a possibilidade da homossexualidade e pan-sexualidades.
Para não falar que só falei mal da Psiquiatria de antigamente, veja uma declaração de um psiquiatra alemão de 1859, Heinrich Neumann, que sustenta que não há vários tipos de doença mental, mas apenas uma, declara: "Finalmente, chegou o momento de deixarmos de procurar a planta, o sal ou o metal que (...) irão curar a mania, a imbecilidade, a insanidade, o furor ou a paixão. Nunca serão descobertos a não ser que se descubram pílulas que transformem uma criança desobediente numa criança de boas maneiras, um homem ignorante num artista hábil, um camponês grosseiro num cavalheiro gentil. Podemos esfregar os pacientes com óleos do mártir até (...) descobrir mais mártires do que a Inquisição espanhola - e ainda estaremos diante do fato de que não estamos sequer um passo mais perto da cura da insanidade. As atividades psíquicas do homem se transformam, não por remédios, mas por hábito, instrução e esforço."
Outro ponto é o uso político desse conceitos pra juridicamente fugir das prisões tradicionais em troca de manicônios, o que deve fazer a defesa do assassino que gerou essas matérias recentes na mídia (*9), recomendo sobre o tema, que se assista o filme Querem me Enlouquecer (no original Nuts) de 1987, com direção de Martin Ritt, com Barbra Streisand e Richard Dreyfuss, que mostra muito bem, além do mecanismo acima, o preconceito social à prostituição por opção, além de explicitar as mazelas ocultas de muitas famílias: abuso sexual no seio da família burguesa tradicional.
Este texto não se propõe a uma conclusão final. Quis comentar e trazer mais informações para cada um questionar seus caminhos, confirmando idéias ou se abrindo a mudanças (afinal a antipsiquiatria nasceu de psiquiatras). Na visão que sigo hoje em dia como somaterapeuta da Somaiê e como coordenador de Sessões de ayahuasca, proponho um pensar e perceber a importância da corporalidade, um buscar uma unidade entre o racional e o emocional, pois este está sempre no aqui e agora, e o racional foi, pelo contrário, educado a fugir desse aqui e agora. De certa maneira somos todos esquizofrênicos, isto é, divididos, pois somos fruto e mantenedores de uma sociedade dividida, como elos de uma corrente que se propaga. Fica a opção individual de se romper com esses elos, e isso acontece a medida que cada um começa a buscar a sua unidade, integridade biológica e energética.
Enquanto houver psiquiatras que acreditam em doença mental, haverá pacientes (ou família) que aceitarão esse rótulo. Assim como na Idade Média se acreditava em bruxas e feitiçaria (*10). Em vez de queimar vivo na fogueira, hoje em dia, se dão choques elétricos, insulínicos, além dos remédios que produzem os mesmos efeitos. O português Egas Moniz inventou a lobotomia pré-frontal na Psiquiatria em 1935, e chegou a receber o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina por esse tratamento com esquizofrênicos em 1955. Anos depois, a Academia do Nobel percebeu o erro e retirou o mérito, pela primeira vez recuando sobre uma premiação. Enfim, em 500 anos melhoramos um pouco, da morte à transformação em zumbis ou imbecis. Quem sabe na evolução futura da cultura do bicho homem isso melhore e se transforme, mas, a meu ver, um começo é perceber que a história ontológica de cada indivíduo se adequando ao meio social é quem produz esses desvios de comportamento, que muitas vezes se tornam crônicos e irreversíveis (incuráveis) devido ao tratamento psiquiátrico ATUAL.
Não é a ayahuasca quem produz surtos psicóticos, isso afirmo categoricamente. O que não impede que qualquer coisa, e em qualquer ambiente, alguém possa chegar num limite de comportamento e romper esse tênue limite que a psiquiatria e o senso comum chamam de loucura. O que também não impede que quem queira acreditar que a ayahuasca produzirá surtos isso não possa acontecer no universo daquela pessoa. Mas ao procurar ver, mas ver realmente - sem as máscaras hipócritas automáticas - o contexto e os motivos, possamos ter outro encaminhamento a essas pessoas.
Ciências e religiões são palavras. Palavras que servem de argumento para o racional humano justificar atitudes e formas de lidar com a realidade e seus semelhantes. A Inquisição teve seu tempo, foi poderosa e hoje é mal vista. Quem sabe essa visão psiquiátrica tradicional em breve terá o mesmo destino... (*11)
(fim da terceira e última parte)
Rui Takeguma, poção da Maromba em 16 de abril de 2010.
site oficial - http://p.e.s.vilabol.uol.com.br
site de relacionamento - www.somaie.ning.com
blog - www.pesayahuasca.blogspot.com
Observações:
(*1) Matéria no jornal O Estado de São Paulo, em 24 de março de 2010: "Serviços de saúde regulamentados em 2002 para substituir as internações em grandes hospitais psiquiátricos registram em São Paulo falta de profissionais e acompanhamento inadequado de pacientes, como ausência de planos individuais de tratamento e de controle sobre efeitos de medicamentos utilizados" por Fabiane Leite. Enfim, o que mudou nessa área marginal da cultura???
(*2) Lógico que mesmo em países democráticos a TV está na mão de quem tem o poder econômico, mas cito o exemplo da proibição da existência do meio TV, como se nem os poderosos pudessem ter acesso a isso. O que para quem entende o funcionamento da atual "democracia", percebe como isso seria impossível, pois é quem tem o poder econômico que comanda as eleições e seus eleitos. Ou, Citando Emir Sader na Revista Caros Amigos de janeiro de 2009: Transitamos da ditadura à democracia, do ponto de vista político, jurídico e institucional, mas a estrutura de poder no sistema bancário, na estrutura da industrial, comercial, agrária, midiática (grifo meu), não apenas não se democratizou, como se tornou mais concentrada, mais ditatorial.
(*3) Declaração de Brock Chisholm, secretário geral da Organização Mundial da Saúde das Nações Unidas em 1946: "Juntamente com outras ciências humanas, a Psiquiatria precisa agora decidir qual deve ser o futuro imediato da espécie humana. Ninguém mais pode fazer isso. E esta é a responsabilidade fundamental da Psiquiatria."
(*4) Existem inúmeras formas que isso acontece, mas basicamente passam por dois mecanismos: primeiro se divide o corpo, priorizando a mente racional acima da nossa disposição emocional para o agir; e com isso nos abrimos ao segundo ponto, de sairmos do aqui e agora do viver, e se perder em projeções futuras e passadas do mental. Isso acontece pela educação familiar, depois educação religiosa (que propõe uma nova divisão - o espiritual), por fim a sociedade e cultura se apóiam e mantém essa forma de iludir a realidade. O médico e psiquiatra José Ângelo Gaiarsa detalha isso muito em seus livros, mostrando como o processo se fortalece na diferença entre o OLHAR e o ESCUTAR. Desde crianças, acostumamos a ouvir coisas que não batem com nosso sentido da visão. Do seu livro Reich 1980, página 126-128, 3a edição:
"A sociedade nos obriga:
- A VER coisas QUE NÃO EXISTEM, como o interesse dos poderosos pelo povo, a pureza dos sacerdotes, a grandeza das mães, o mal da rebeldia, o prêmio da honestidade e tantas outras declarações semelhantes, cheias de incertezas e exceções, apesar disso propostas como verdades universais, eternas e incontestáveis. A força desta lição coletiva (da coação coletiva) está no acordo tácito dos demais, que se mostram dispostos, a julgar pelas aparências (pelo que é aparente, pelo que se VÊ) a agir de acordo com o orador, se as circunstâncias assim o exigirem.
- a sociedade nos obriga também a NÃO VER o que EXISTE. (...) Se o lacaio disser o que viu no Palácio, a Realeza deixa de ser Real. Se a doméstica disser o que viu na casa rica, o rico vira um qualquer. Se uma criança se propusesse a dizer tudo o que vê em casa, nas suas relações familiares, seria fortemente repreendida e castigada. Aquilo que mamãe acredita ser, que ela DIZ ser, que ela acha que DEVE ser, relaciona-se precária e aleatoriamente com aquilo que realmente ela faz.
Ponto crítico: as crianças, creio que entre os três e oito anos de idade, sofrem um dos conflitos mais fundamentais e mais angustiantes da vida (de todos): ACREDITO NO QUE VEJO (OLHOS) ou ACREDITO NO QUE ME É DITO (PALAVRAS)?
(...)Temos, pois, bem no coração do pacto social, uma hipocrisia coletiva, como diriam os radicais; ou uma conveniência, uma convenção ou um contrato (jurídico), necessário à organização dos grupos; esta a fórmula usada pelos moderados...
NADA MAIS LOUCO QUE O BOM COMPORTAMENTO"
(*5) Vejam texto de Maria Lucia Karan no livro (Editado pela Universidade Federal da Bahia e apoiado pelo Ministério da Cultura) Drogas e Cultura: novas perspectivas, de 2008, Organizado por Beatriz Caiuby Labate, Sandra Lucia Goulart, Mauricio Fiore, Edward MacRae e Henrique Carneiro.
(*6) Para quem questione meu argumento e coloque que também se aceita que se plante em pouca quantidade para consumo próprio (o que quase não acontece frente a paranóia que se mantém sobre a criminalização), eu continuo afirmando a contradição legal, de podermos usar algo que não pode ser comercializado...
(*7) em 1938, Harry F. Anslinger, comissário de narcóticos nos Estados Unidos: "A Seção de Narcóticos reconhece o grande perigo da maconha, pois nitidamente prejudica a mentalidade e o seu uso contínuo leva diretamente ao asilo de alienados." Curioso como hoje os EUA estão cada vez usando mais a maconha para usos médicos, e o Estado da Califórnia está pra fazer um plebiscito para legalizar a maconha, até a Organização das Nações Unidas (ONU) já percebem que o caminho é de acabar com esse bode expiatório da maconha ilegal.
(*8) por erros de tradução e interpretação onanismo é sinônimo de masturbação, mas o crime de Onâ na Bíblia era o coitus interruptus, seu crime não era a auto-satisfação sexual, mas a retirada do pênis da vagina antes da ejaculação, pois assim desobedecia à lei do levirato e evitava ter um filho com a viúva de seu irmão. Ver o Gênese, 38: 8-10.
(*9) início da jurisprudência na área:
1843 - Daniel M'Naghten, acusado de atirar em Edward Drummond, é libertado como "não culpado, por insanidade". Depois de libertado, é encarcerado em manicômios, onde morre em 1865. O seu caso estabelece um precedente, como a regra M'Naghten: "(...) para fazer uma defesa com base em insanidade, é preciso provar claramente que, no momento em que cometeu o ato, o acusado estava agindo sob uma tal deficiência da razão, de doença da mente, de forma que não sabia qual a natureza do ato que estava praticando; ou se sabia, não sabia que o que estava fazendo era errado"
1954 - Monte Durham, um homem acusado de violação de domicílio, é absolvido como "não culpado, em razão de insanidade", e confinado em manicômio. Seu caso estabelece precedente legal como a regra Durham: "A regra que hoje aceitamos (...) diz simplesmente que um acusado não é criminalmente responsável se seu ato contrário à lei foi o produto de doença mental ou deficiência mental."
(*10) Ainda em 1775 (mais de 500 anos depois do início da Inquisição), Sir William Blackstone, o Pai do Direito Inglês, dizia que "negar a possibilidade e, mais ainda, a existência real da feitiçaria e da bruxaria é, ao mesmo tempo, negar a palavra revelada de Deus (...) e, em si mesma, a coisa é uma verdade testemunhada por todas as nações do mundo." Logo a crença começou a ser discutida. No entanto, essa mudança não representou um avanço real da mente humana, Charles Williams observa amargamente que "Os homens ficavam aterrorizados com a possibilidade de se comportar de maneira diferente dos outros e aqueles que uma vez acreditaram em feiticeiras agora descrêem delas exatamente pela mesma razão - porque todo o mundo faz isso". Isso poderia dar o que pensar a todos os que aceitam a crença popular em doença mental.
(*11) as mudanças que acontecem com o tempo são interessantes, por isso acrescentei esse longo ADENDUM abaixo, veja Joana D‘Arc, que foi queimada viva como feitiçeira em 1431, e pela mesma Igreja que fez a Inquisição, foi canonizada como santa em 1920.
ADENDUM
HOMOSSEXUALIDADE
Em 1952 o congresso americano promulga a Lei McCarran que, entre outras coisas, diz que "os estrangeiros que tenham: a) personalidade psicopática não devem ser admitidos nos Estados Unidos." A partir de então, os imigrantes homossexuais são imediatamente classificados como "personalidade psicopática", e, se entraram no país depois da promulgação da lei, são deportados.
JUDEUS -
Quando acontece a peste bulbônica na Europa, em 1350, que mata mais de 1/3 da população, os judeus são acusados de causar a peste, na Alemanha muitos são exterminados e muitos fogem pra Polônia e Rússia. Em 1412 leis contra judeus e mouros se tornam uma parte aceita da sociedade espanhola. Em 1492, é ordenada a expulsão dos judeus na Espanha, essa ordem somente é declarada nula em 16 de dezembro de 1968, e no mesmo dia abre-se a primeira sinagoga construída no país.
MASTURBAÇÃO
Em 1716, surge em Londres a teoria de que a masturbação provocaria insanidades.
Em 1758, Simon-André D. Tissot publica Onanismo, ou um Tratado sobre as Doenças Provocadas pela Masturbação, com muitas autoridades médicas respeitáveis para justificar o conceito de "insanidade masturbatória"
Em 1812, Benjamin Rush (hoje considerado Pai da Psiquiatria Moderna, nos EUA) publica suas Pesquisas e Observações Médicas sobre as Doenças da Mente, o primeiro manual americano de Psiquiatria, nele declara "que masturbação provoca fraqueza do sêmem, impotência, disúria, tabes dorsalis, tuberculose pulmonar, dispepsia, fraqueza de visão, vertigem, epilepsia, hipocondria, perda de memória, manalgia, imbecilidade e morte"
Em 1816, Jean Esquirol afirma que a masturbação "é reconhecida em todos os países como uma causa comum de insanidade". Em 1838 acrescenta epilepsia, melancolia e suicídio como condições provocadas pela masturbação.
Em 1842, C. F. Lallemand, médico francês, adverte que se a masturbação se tornasse mais comum "ameaçaria o futuro das sociedades modernas; por isso, é urgentemente necessário que tentemos extirpar essa calamidade pública.
De 1850 a 1900 a doutrina psiquiátrica de que a masturbação provoca insanidade atinge seu ponto máximo, em 1855 um editorial do New Orleans Medical and Surgical Jounal afirma que: "... nem a peste, nem a guerra, nem a varíola, nem uma multidão de males semelhantes, foram mais desastrosos para a humanidade do que o hábito da masturbação; é o elemento destrutivo da sociedade civilizada."
Em 1863, David Skae, um médico escocês, introduz a expressão "insanidade masturbatória" para indicar a insanidade que, segundo se supõe, é causada pelo onanismo.
Em 1868, Henry Maudsley, considerado um marco da psiquiatria inglesa: "Um estádio posterior e ainda pior a que chegam esses seres degenerados (os masturbadores) é de auto-absorção soturna e insociável, e de perda extrema das capacidades mentais (...) Ficam intratáveis, quietos, etc. (...) Essa é, portanto, a história natural da degeneração física e mental provocada nos homens pela masturbação. É um quadro triste de degradação humana (...) Não tenho confiança em meios físicos para deter o que se tornou uma doença mental grave; quanto mais cedo cair para seu repouso degradado melhor para ele, e melhor para o mundo que se livra dele. Esta é uma conclusão limitada e triste, mas também inevitável."
Em 1869, Karl Ludwig Kahlbaum, um psiquiatra alemão famoso por ser um dos primeiros a classificar as doenças mentais, dá o nome de "catatonia" a uma síndrome que, segundo acreditava, "seria causada principalmente por masturbação prolongada ou excessiva."
Em 1876, T. Pouillet, médico francês, começa seu tratado "médico-filosófico" sobre a masturbação com as seguintes palavras: "De todos os vícios e de todos os erros que podem, corretamente, ser denominados crimes contra a natureza, que devoram a humanidade, ameaçam sua vitalidade física e tendem a destruir suas faculdades intelectuais e morais, um dos maiores e mais difundidos - ninguém o negará - é a masturbação.
Em 1882, Richard von Krafft-Ebing, professor de Psiquiatria da Universidade de Viena, e um dos mais notáveis psiquiatras de seu tempo, publica a Psychopathia Sexualis, o que o torna o fundador da moderna sexologia psiquiátrica. Acredita ele que a masturbação pode levar à homossexualidade."
Em 1890, Jonathan Hutchinson, presidente do Royal College of Surgeons, trata a masturbação através da circuncisão, e defende a idéia de que "medidas mais radicais do que a circuncisão, se a opinião pública permitisse sua adoção, seriam uma real caridade para muitos pacientes de ambos os sexos."
Em 1905, Bernard Sache, eminente psiquiatra de Nova York e autor de um Tratado sobre Doenças Nervosas das Crianças, recomenda o tratamento da masturbação, por cauterização da espinha e dos órgãos genitais."
Em 1918, Ernest Jones, um dos pioneiros da Psicanalise inglesa, sustenta que "verificar-ser-á que a neurastenia verdadeira (...) depende de onanismo excessivo ou ejaculações involuntárias.
VACINAÇÃO
Em 1772, o reverendo e teólogo Inglês prega contra a vacina antivariólica, publica que as doenças são enviadas pela Providência divina para castigo dos pecados e que a tentativa de impedir a varíola é "uma operação diabólica"
Em 1798, um grupo de sacerdotes e médicos de Boston, forma uma Sociedade Contra a Vacinação". Denunciam a vacinação contra a varíola como "desafios aos céus e até à vontade de Deus" e declaram que "a lei de Deus proíbe a sua prática"
NEGROS
O sexto recenseamento dos Estados Unidos revela que os negros livres do Norte tem incidência muito maior de insanidade do que a população branca da nação, ou do que os negros escravos do Sul. Sendo que os críticos desse recenseamento afirmam que, em algumas cidades, o número de negros arrolado como doentes mentais é superior ao número total de negros que aí vivem.
Em 1844, James M'Cune Smith, um negro livre nortista, desmente em cartas ao New York Tribune, a afirmação de que os negros livres sejam especialmente predispostos à insanidade: "É opinião difundida que a emancipação fez dos negros livres surdos, mudos, cegos, idiotas, insanos, etc. (...) A liberdade não nos deixou loucos, fortaleceu nossas mentes ao exigir que usemos nossos recursos, e nos ligou às instituições americanas com uma firmeza que apenas a morte poderá romper."
Em 1858, para rebater argumentos abolicionistas, o superintendente do Hospício do Estado da Luisiana, declara que "(...) muito raramente os nossos escravos ficam insanos (...) não se pode negar que a grande inserção dos escravos com relação à insanidade se deve à sua situação, a proteção que a lei lhes garante, à limitação de um estado suave de servidão, à liberdade com relação a todas as angústias ligadas a seus desejos presentes e futuros, à inexistência (em grande parte) de todas as bebidas alcoólicas, e todas as formas de excessos em que caem os negros livres."
HITLER
Em 1939, com o início da guerra, Hitler ordena a aplicação do "programa de eutanásia" do Partido Nacional Socialista: "As pessoas com moléstias incuráveis devem ter a mercê da morte." As primeiras câmaras de gás são construídas em hospitais psiquiátricos e começa a morte por gás de doentes mentais (e algumas outras pessoas com doenças crônicas). Durante os dois anos seguintes, aproximadamente 50.000 alemães (não-judeus) são mortos com gás de monóxido de carbono em quartos de morte, disfarçados, como mais tarde o foram em Auschwitz, como salões de chuveiros e banheiros." Em 1941 a morte por gás de doentes mentais na Alemanha é interrompida, e começa a morte por gás de judeus no Leste Europeu.
("O perigo específico que o judeu representa para a comunidade acompanhou as mudanças históricas no que a sociedade valoriza. Na Idade Média, o judeu era um traidor da cristandade; seus ancestrais, segundo se acreditava, mataram Jesus, e ele continuou a rejeitar a fé verdadeira e a autoridade da Igreja. No mundo moderno, o judeu é um traidor da Pátria e se opõe à ideologia política dominante. Dreyfus simboliza o judeu como traidor da pátria. A partir da revolução soviética, o judeu surgiu como o inimigo prototípico do capitalismo e do comunismo. No ocidente, a ideologia comunista era vista como inspirada pelos judeus, considerando Marx e Trotsky como seus símbolos principais. No Oriente, a ideologia capitalista é vista como inspirada pelos judeus, considerando--se os Rothschild e outros "banqueiros judeus" como seus principais símbolos." página 141, da 3a edição, A Fabricação da Loucura - um estudo comparativo entre a Inquisição e o movimento de Saúde Mental, de Thomas S. Szasz)
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Oi conheça o blog de uma amiga sobre síndrome do pânico, agradeço desde já a visita.
ResponderExcluirhttp://sindromemm.blogspot.com
Boa essa parte do BLOG:
ResponderExcluirEntre a farsa e a verdade, o encontro com profissionais que não estão preparados para um diagnóstico , profissionais que servem mais aos laboratórios que aos pacientes . Me recusei a ser uma cobaia em uma rede de suposições médicas e paguei o preço por isso . Mas sobrevivi para contar a história e questionar tudo , até que ponto a sociedade e os médicos estão preparados para lidar com uma doença como a síndrome do pânico ? E realmente existe essa doença ? Ou são os laboratórios que se aproveitam de reações humanas , exageram , mentem e nos convencem que reagir a vida é sinal de algum desordem mental
Bacana o post e aproveito para convidar a participar de meu blog: PELO FIM DA ESCRAVIDÃO PSIQUIÁTRICA
ResponderExcluirhttp://anti-psiquiatria.blogspot.com/
Olá, você tem um e-mail, grupos no facebook, ou rede sociais à me indicar sobre este assunto?
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